sábado, 27 de agosto de 2011

O que há em mim é sobretudo cansaço


Não disto nem daquilo,


Nem sequer de tudo ou de nada:


Cansaço assim mesmo, ele mesmo,


Cansaço.






A subtileza das sensações inúteis,


As paixões violentas por coisa nenhuma,


Os amores intensos por o suposto alguém.


Essas coisas todas -


Essas e o que faz falta nelas eternamente -;


Tudo isso faz um cansaço,


Este cansaço,


Cansaço.






Há sem dúvida quem ame o infinito,


Há sem dúvida quem deseje o impossível,


Há sem dúvida quem não queira nada -


Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:


Porque eu amo infinitamente o finito,


Porque eu desejo impossivelmente o possível,


Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,


Ou até se não puder ser...






E o resultado?


Para eles a vida vivida ou sonhada,


Para eles o sonho sonhado ou vivido,


Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...


Para mim só um grande, um profundo,


E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,


Um supremíssimo cansaço.


Íssimo, íssimo. íssimo,


Cansaço...










Álvaro de Campos

Nenhum comentário:

Postar um comentário